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2.4.14

aos potênciais emigrantes


Quando eu decidi emigrar não foi por querer sair do meu país foi sim por falta de opções no meu país que me permitissem realizar os meus sonhos.
Sabia que não ia ser fácil, não tinha muitas ilusões, mas viemos (eu e o D.) com o risco controlado. O D. veio com emprego - ele já tinha vivido em Inglaterra e acabou por contactar a empresa de onde tinha saído e que prontamente lhe garantiu trabalho - eu tinha algumas bases de inglês. Trouxemos cerca de 1000 euros para a viagem e nos mantermos o primeiro mês.

Portugal está em crise, não é novidade nenhuma nem é nada recente, já é uma crise adolescente e não criança como às vezes se pensa, mas esta crise não é uma exclusividade Lusa. O Mundo está em crise em alguns lados crise económica noutros crise humanitária e há os "privilegiados" que unem as duas crises e fazem a festa. Mas para sair de um país não basta pensar: vou emigrar e ligar ao amigo ou conhecido que já se aventurou antes. Para emigrar é preciso ter sonhos e querer e ter motivação para correr atrás deles. Não adiante vir de diploma na mão a achar que se vai começar a vida fora do país atrás da secretária a receber mais de 30000 ao ano, esses são a minoria, não se esqueçam que aqui também há crise (numa proporção menor mas também a há). Também é injusto achar que se vem viver à custa do estado quando nunca se trabalhou para a riqueza do país. Pensar que o trabalho vai-lhe cair no colo é outra asneira e vir com ilusões de que não se fará nada que não seja dentro da área para a qual se estudou é meio caminho para se sentir uma imensa frustração.
Há no entanto uma vantagem enorme, é que fora de Portugal todo e qualquer trabalho é digno e valorizado. Fazer limpezas quando se chega a um país onde mal se fala a língua e pouco se conhece não é vergonha nenhuma e não inferioriza ninguém. Eu costumo dizer que nunca ganhei tanto como Arquitecta em Portugal como aqui como empregada de mesa. 

Quando parti de Portugal tinha essencialmente dois sonhos. Trabalhar na minha área de formação (Arquitectura), principalmente pela estabilidade económica que isso me daria, e ser mãe.
Ainda enviei algumas candidaturas espontâneas para gabinetes de Arquitectura e tentei pôr-me a par das leis e da forma de trabalhar aqui. Não gostei. Se há coisa que eu acho que aqui não se faz bem é casas. Há uma enorme diferença de materiais e métodos de construção e não sei até que ponto valorizam o detalhe construtivo em projecto. O certo é que, ao fim de 2 anos, uma casa nova já está carregada de rachas, portas empenadas e humidade. Uma coisa que porém funciona bem aqui é o aquecimento central, seja ele topo de gama e último grito, seja ele do tempo da avozinha.
Desisti de um dos meus sonhos grande parte em prol do outro mas, por outro lado, porque neste país não vejo valorizarem a Arquitectura que eu gosto e com a qual me identifico, que tem tudo a ver com a parte da execução. Mais do que bonitinho o edifício tem de ser habitável e resistir ao tempo.
Esta desilusão no sector da construção inglês nunca me trouxe qualquer frustração, muito pelo contrário, deu-me uma motivação extra para correr atrás do meu outro sonho e criar condições para ele. Foi assim que surgiu a Koalita Party, que me permite ajudar no orçamento familiar e ser mãe ao mesmo tempo. E é esta a minha luta diária... manter-me motivada para não desistir de uma em prol da outra, é desgastante trabalhar e tomar conta de crianças em simultâneo, mas sei que isto é uma fase. Em breve também a Clara irá para a creche e eu ficarei com algumas horas exclusivas para mim, para o meu trabalho.

Quem decide emigrar é com esta perspectiva que deve vir. Uma perspectiva de luta constante, ter motivação para não desistir do seu objectivo principal, mesmo que no imediato ele pareça longe, vir de mente aberta para aceitar qualquer trabalho que lhe permita sobreviver nos primeiros tempos, vir com humildade e determinação, com a certeza que não restava nada mais para ele no país de origem.

Hoje em dia, na sua maioria, quem emigra é para já não voltar mais por isso não deixem pendências.

* estou em Inglaterra vai fazer 5 anos, parece que foi ontem.

3 comentários:

  1. E mesmo isto :) Mudar e bom, basta acreditar :) Vou fazer 4 anos de UK no dia do meu aniversario e cada vez temos mais a certeza que fizemos a decisao certa, a todos os níveis :)
    Venham mais 4, 5, 10 :)
    Muitas felicidades*
    Bjinhosss
    https://matildeferreira.co.uk/

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    Respostas
    1. Infelizmente muitos são os que se desiludem e voltam... por agora não tenho tido razão de queixa. Nem sempre é fácil e temos de abdicar de algumas coisas importantes mas depois das miúdas terem nascido ficou mais claro que conseguimos criá-las melhor aqui. Enquanto houver trabalho e nos quiserem cá... ficaremos ;)

      Beijinhos

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    2. Vou fazer 8 anos disto em Agosto... o tempo passa a correr...

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